Um grande amor

Mirela me levou para um tempo-espaço familiar; mas fui parar num lugar distante de mim, de hoje, do meu agora. A espera do grande amor. O encontro com o desconhecido. O mistério no olhar do outro. A paquera, o drink, as mãos que não sabe onde colocar. O andar embriagada de dedos entrelaçados pelas ruas desertas da madrugada de São Paulo. A euforia de ver a mensagem chegando no celular. Vozes trêmulas, suaves, palavras escondidas.

“Mirela gostou tanto daquele beijo ruim que era como se ele fosse bom. Seus corpos mais próximos, a alegria leve do álcool, mais cerveja, mais beijos, sempre desajustados, mas não tinha importância. Mirela o poderia amar profundamente mesmo assim” (Copo vazio – Natalia Timerman)

Mirela é a personagem do livro Copo Vazio. Ela vive um grande amor. Ela espera esse grande amor. Ela inventa histórias com seu grande amor. Ela lembra a vida todo de seu grande amor. Passa por detalhes, examina e tenta entender. Tem saudades até do que não viveu com seu grande amor.

Ela me fez lembrar quando me apaixonei pelo pai das minhas filhas. Eu amava ver ele arrumando o cabelo em frente ao espelho. Não suportava a ideia de pensar que um dia ele poderia ir embora, mesmo sabendo que mais cedo ou mais tarde ele iria. Passaram-se quatorze anos e ele não foi (ainda). Mas, desde que as meninas nasceram, eu nunca mais olhei ele arrumando o cabelo em frente ao espelho.

Mirela pegou em minha mão e me lembrou das delícias e angústias de se viver uma grande paixão, de se entregar ao amor romântico e vivê-lo como se fosse a única razão da vida. Me deu saudades de mim, dele e de nós dois juntos sozinhos.

"Quem sabe, de olhos fechados, a realidade se faça sonho," (Copo vazio - Natalia Timerman )