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Torto Arado

  • Jessica Marzo
  • 30 de mai. de 2021
  • 1 min de leitura

Espero a chuva chegar. De dentro do meu apartamento, na terra da garoa, eu que sou cética, ateia, até rezo, converso com os encantados, acompanhada de Zeca Chapeu Grande e Salustiana para que caia água do céu e eu me deleite com o cheiro de terra molhada.


Ouço o silencio das minhas meninas brincando no quarto. O que será que elas estão fazendo? E se encontrarem a mala de Donana, com a faca? E se perderem a fala? Vou conferir. Ceci e Amora estão montadas em um pônei de pelúcia. Bibiana e Belonisia carregam sangue em suas bocas. Emudeço junto com as duas irmãs paridas pela terra.

Sigo atenta a velha Donana no seu mundo das lembranças, no arrumar e desarrumar o cotidiano daquela mala. As ervas tão bem-preparadas por Zeca Chapéu Grande me curam da exaustão do dia cheio de tarefas.


Aguardo ansiosa pelas brincadeiras de jarê e a visita dos encantados. De repente me apaixono por Severino, é que ele tem uma sedução entranhado no seu movimento pelo mundo. O povoado todo de Água Negra está morando na minha casa e a ele hoje pertenço.


"Fiquei atenta a tudo o que acontecia, sabia que nada retornaria. Olhei com certo encantamento o tempo caminhando indomável, como um cavalo bravio" (Itamar Vieira Junior – Torto Arado)






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Se quiser falar comigo sobre qualquer coisa me manda um e-mail :)
jemarzo@hotmail.com

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