O parque das irmãs magníficas
- Jessica Marzo
- 4 de mar. de 2022
- 1 min de leitura
Atualizado: 9 de jun. de 2022
Como é difícil vagar pelas margens do mundo, no frio, sob um salto alto, com pouca roupa. Cara cheia de maquiagem, para tapar os poros e não deixar que a alma escape. Eu que sou tão diurna passei os últimos dias na escuridão com Camila. Porque existem coisas que não podem acontecer a luz do dia, ela me contou.
Os homens, em carros grandes, com suas navalhas entre as pernas, sedentos a realizar toda a sua podridão. Perigosos, violentos, mesquinhos, indecentes, desumanos. Eles.
Elas têm Tia Encarna, a mãe protetora de todas as irmãs. A mãe do menino jogado na vala. O amor pela criança é tanto que transformou seu peito recheado de óleo de avião em leite materno.
“tia Encarna era a ferocidade da beleza. Não a beleza em sua inteireza, mas uma fração enferma e inesquecível: a mais feroz” (o parque das irmãs magnificas – Camila Sosa Villada).
Travestis. Putas. Carregam o prazer, o desejo e o ódio do mundo em seus corpos, e tem como pequena felicidade do dia voltar para casa invisível e sem agressões. O silêncio visual são os momentos de descanso.
“as vezes, sentia que as pernas lhe pesavam como sacos de cimento, que os órgãos se tornavam de pedra dentro do corpo e o coração ia endurecendo por falta de uso” ( o parque das irmãs magnificas – Camila Sosa Villada).

Comments