Madrastas, Padrastos, Avodrasta

-Toda a madrasta é má?

Perguntou minha filha de seis anos

Li num texto escrito por Julian Fuks que na história original da Branca de Neve, não existia a madrasta, era a própria mãe, a invejosa. A história não fala de uma mulher poderosa e malvada que surge para destruir uma família bondosa, como quer a Disney, e sim do desequilíbrio que pode acometer uma mãe, uma mulher comum, quando sente que está perdendo a juventude e a beleza, e que já não será apreciada como antes, que a velhice lhe será austera.

Encontrei o livro “A minha madrasta” na biblioteca de Oeiras (Portugal) e trouxe para ler com a minha filha. O livro ajuda a desconstruir a figura má da madrasta. Mas não retrata a complexidade desse papel. Nem toda madrasta é má, e nem boa, carinhosa e disponível o tempo todo. Assim como as mães.

Minha filha não perguntou sobre os padrastos. O que me fez pensar que talvez eles não existam nas histórias clássicas infantis. Essa ausência revela os estereótipos, as dinâmicas familiares tradicionais e a impossibilidade de uma mulher viver com um homem que não seja o pai de seu filho.

No livro “O poeta chileno” do Alejandro Zambra o protagonista é um padrasto. Quando ele busca no dicionário o significado de seu novo papel, encontra como primeira definição “marido da mãe, em relação aos filhos que ela possui” e a segunda definição “pai ruim”. Fiz a busca no dicionário para a palavra madrasta, e deu na mesma linha de significado.

Os novos tempos tem feito nascer cada vez mais madrastas, padrastos e até avodrastas, palavra que meu corretor do word não identificou, mas encontrei no dicionário. Figuras não nomeadas, ou então construída de forma equivocada em nosso imaginário. Mães, pais, irmãos, padrastos, madrastas entrelaçam-se em arranjos familiares íntimos, e por isso tão complexo, ambíguo e interessantíssimo de ser lapidado.