Dias de abandono de Elena Ferrante
- Jessica Marzo
- 27 de jun. de 2023
- 2 min de leitura
Atualizado: 12 de dez. de 2023
Não costumo ler mais de um livro do mesmo escritor ou escritora. Já fiz algumas vez e não deu certo. Quando terminei a tetralogia de Elena Ferrante, eu queria mais, queria devorar toda a sua obra, mas me contive, pois a expectativa era de um encontro arrebatador com o próximo livro de sua autoria, e para isso talvez fosse preciso esperar.
Apesar de não ter lido Ferrante nos últimos anos, fui alimentada por filme, series e podcast sobre seus livros. Não consegui ficar longe de sua obra e percebi que suas reflexões atravessam minha vida, o tempo todo.
Ler Dias de Abandono não foi como ler a Tetralogia da Amiga Genial. E num primeiro momento fiquei decepcionada. O abandono todo da personagem principal me angustiou demais. Olga fica desorientada com a separação. Eu queria ajudar aquela mulher. Queria sacudi-la e dizer “reage, mulher, reage. A casa, os filhos, o cachorro, tudo depende de você, reage mulher.” Fiquei brava com a escritora de deixar Olga tão sozinha, sem ajuda. Eu li rápido, porque queria terminar logo, queria me livrar daquela mulher abandonado, da casa suja, as crianças sem almoço, o cachorro sem passeio. E apesar da leitura difícil, nunca pensei em deixar Olga, eu estava ali, e iria até o fim, precisava ver o que aconteceria com aquela mulher, que perdeu as margens, os sentidos, depois de uma ruptura brusca na vida.
Quinze anos de casada, dois filhos, um cachorro, uma casa, e o abandono de profissão. E um dia ele se vai. “ Estava cansado, confuso, vivia momentos de insatisfação, talvez de covardia e admitiu que não tinha do que reclamar dos filhos nem dela. Assumiu a culpa e fechou a porta com cuidado (...). Vi-me sozinha e assustada por meu próprio desespero (...). Chega, precisava arrancar a dor da memória, precisava me livrar dos arranhões que destruíam meu cérebro (...). Pensei então em tomar um banho quente, talvez me depilar, os banhos acalmam, preciso do peso da água sobre a minha pele, estou me perdendo, e se não me encontrar de novo, o que acontecerá com as crianças?”
Não, não foi uma leitura fácil. Fechei o livro há quatro dias e Olga não me abandona, nem eu consigo abandoná-la, seu mergulho foi profundo e ressoa dentro de mim.

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