Ser gordo é imoral

Malhar, correr alguns km, se equilibrar em bolas e elásticos, comer o que tem numa listinha, tomar sucos verdes, beber muita agua e dormir 8h por dia é a receita de sucesso do homem moderno. Todos são capazes de perder 10, 20 até 50kg, basta ter disciplina, persistência e força de vontade. A motivação não é só pela estética, mas principalmente pela saúde, autoestima e bem-estar.

É esse o discurso que invade blogs, redes sociais, corredores de universidades, restaurantes e alguns livrinhos. A disciplina é a base de toda uma vida magra e saudável. Na vida do homem que supervaloriza o corpo e a saúde não há espaço para vícios. Ingerir bebidas alcoólicas, deliciar-se com um doce ou uma friturinha, estender a noite na rua ou na casa de amigos é quase um crime. Estar acima do peso (peso de quem?) não é só uma afronte aos padrões estéticos, mas é libertino, sinônimo de indisciplina, preguiça e gula. Ser gordo é quase imoral, foge às regras de conduta e passa longe dos bons costumes.

Seres magros, lindos esbeltos, com uma “ótima” qualidade de vida e uma “inspiradora” história de superação, em parceria com a indústria da beleza e da mídia, reproduzem padrões estéticos que priva o sujeito de seus vícios. Oprimido pela disciplina da vida saudável ele é privado de transgredir, de ferir as regras e assim de criar o novo, pois a vida passa a ser uma série de movimentos repetidos com horários rígidos.

E assim a vida é preenchida, na incessante busca pela perfeição estética e saudável do corpo, para que possamos viver mais e “melhor”. Para quê? Para reproduzirmos a mediocridade da vida moderna. Arrisco em dizer que os mais incríveis e interessantes artistas, líderes, escritores, músicos, pensadores e sujeitos comuns eram e são seres indisciplinado, cheio de vícios e muito provavelmente “fora” do peso.

ilustração: Steph Angeles