Minha segunda gravidez

Me sinto plena, linda e feliz. Me emociono facilmente, me estresso dificilmente. Ando com a cabeça na lua e esqueço de pagar contas. Faço planos, imagino, idealizo. Nunca me sinto sozinha. Já me senti assim, uma única vez na vida. Preciso aproveitar cada milésimo de segundo deste estado em que me encontro. Ele é raro. As pessoas me olham, sorriem, perguntam, me tocam, se preocupam e cuidam de mim o tempo todo. Grávida. Sou uma mulher gerando uma vida. É tudo novo, de novo.

Diferente da minha primeira gravidez, hoje não tenho preocupações e dúvidas em relação ao parto e a amamentação. Foi fácil a primeira vez. Vai ser fácil de novo. E apesar de ter consciência de que ser mãe (seja pela primeira, segunda ou quinta vez) é caminhar por uma floresta totalmente desconhecida, só consigo reviver as minhas próprias experiências, alimentar minhas expectativas e fazer planos para me proteger dos traumas.

O que eu vou ser no puerpério? Que luto vou viver? Quem vou me tornar? O que vai mudar na minha relação com meu marido, minha filha, minha família?

Diferentemente da minha primeira gestação, nesta segunda eu estou me preparando para o pós-parto e todas as surpresas que tive quando me tornei mãe. Mas quem viveu todas essas experiências inesperadas foi aquela mulher que não era mãe. A mulher que fui obrigada a enterrar para que pudesse nascer outra.

E hoje, para o que devo me preparar? Qual será o meu maior desafio? A minha maior transformação? Expectativas, idealizações, medos, angustias. É tudo novo, de novo.

Filha ou filho, venha para bagunçar o que eu estava começando a arrumar. Venha, para desconstruir minhas certezas. Acho que estou preparada, então venha para me mostrar que mais uma vez eu não conheço nada sobre mim! Essa é a graça da vida! Como diz Guimarães Rosa: “Viver é muito perigoso... Porque aprender a viver é que é o viver mesmo... Travessia perigosa, mas é a da vida”.

Ilustração: Roberta Briatico