Meu livro: E agora, Dora?
- Jessica Marzo
- 10 de set. de 2024
- 1 min de leitura
Desmarginação. Já imaginou os contornos de alguém se dissolver, diluir-se precipitar sobre outra coisa, se misturar e assim se perder?
Meu encontro com a escritora Elena Ferrante foi catártico. Uma explosão. Li a tetralogia “ Amiga Genial” quando entramos na pandemia. Fazia terapia pela primeira vez. Pensa no combo: Elena Ferrante + Pandemia + Terapia.
Além de mergulhar no feminismo, relações de amor, amizade, maternidade, loucura, abandono, a luta de classes a escritora também me apresentou uma palavra nova: a Desmarginação. Fiquei fascinada em pensar na ideia de perder as margens.
Imagina que você vê uma pessoa, constrói as linhas desse corpo a partir do que você sabe e conhece dela, e de repente, em algum momento, por algum fato novo, a sua percepção em relação a ela muda, e a linha, aquele contorno que você criou pra ela se desfaz. Obviamente não conseguirei expressar a grandiosidade desse conceito, é necessário abraçar a obra de Elena Ferrante.
E enquanto eu pirava na ideia de desmarginação minhas filhas pequenas comiam chocolate em frente a televisão todos os dias porque era pandemia, e não tinha escola, nem ajuda, muito menos pra onde correr. A rotina se perdeu, as regras foram diluídas e elas faziam o que queriam enquanto eu lavava máscaras e tentava desinfetar os pacotes de macarrão. E o resultado dessa desordem é previsível, não precisa ser especialista em psicologia infantil pra saber que criança sem margem, sem contornos, se perde.
E foi inspirada na desmarginação de Ferrante, e na desmarginação da minha casa durante a pandemia que criei a Dora, personagem do meu novo livro para as crianças.

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