Ser ou não ser mãe, eis a questão
- Jessica Marzo
- 11 de fev. de 2022
- 2 min de leitura
Atualizado: 18 de fev. de 2022
Essa é a pergunta que atravessa os corpos femininos que ainda não foram alargados pela maternidade. Estou com 37 anos, gravitando a idade do tal relógio biológico da mulher e dialogando com amigas da mesma idade sobre a famosa e perturbadora questão.
Essa semana fui almoçar com uma amiga de 35 anos, que não está muito a fim de ter filho, e me colocou a questão. E aí, ser ou não ser mãe? Preciso decidir, eu não sei, não quero, não agora. Sou tão livre, viajo, faço 3 horas de trilha. Gosto de tirar uma soneca de tarde. Tenho tantos projetos. Mas e meus pais, eu posso tirar esse direito de eles serem avós? E na velhice, vou ficar muito sozinha? E me conta, e esse amor aí materno, é arrebatador, tenho que viver isso? Vou me arrepender de não ser mãe? Vou me arrepender de ser mãe?
Nascemos mãe, aos três anos de idade, andamos com uma boneca pra cima e para baixo a tiracolo. Você vai ser mãe. Há uma pressão para a maternidade. A sociedade tem pena das mulheres que não são mães, acham que elas são solitárias, e serão para sempre. Porém essa mesma estrutura que empurra a mulher para a maternidade, também abandona quando ela se torna mãe: “Crianças não são bem-vindas nos espaços públicos, choram, gritam, correm. Filho atrapalha a produtividade da mãe no mercado de trabalho. A licença paternidade obrigatória é de apenas vinte dias.” Sem espaço de lazer, trabalho e parceria no cuidado dos filhos, as mães se sentem solitária. A maternidade é um peso.
Porém a não maternidade também é um peso: “A mulher sem filho vai ficar sozinha. A mulher sem filhos não presenteou os pais com a alegria dos netos. A mulher sem filho só pensa nela. A mulher sem filhos não conhece o amor verdadeiro” (seja lá o que isso signifique).
Tenho uma amiga decidida a não ter filhos que conta mentiras se perguntada quando vem o bebê. Ela cansou de se explicar, porque a mulher que não quer ser mãe, tem que ter uma explicação, e nenhuma é razoavelmente aceita. Então, ela agora conta mentiras, faz cara de coitada e diz que está há anos tentando, mas não consegue. E assim, e só assim, com pena, é que não se cobra e se toca mais no assunto.
Vale destacar que essa questão passa por um recorte social e temporal, porque sabemos que muitas mulheres (a maioria) não tiveram e ainda não tem a chance de escolher. Poucas mulheres podem decidir pelos seus corpos e suas vidas. Porém essa liberdade, de que podem decidir, vem carregada de dúvida, punição, julgamento e abandono. Porque a liberdade feminina incomoda o patriarcado. E essa ainda é a história das mulheres, de todas as mulheres, mães e não mães.

ilustração: Jeffrey Alan Love
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