Qual o valor das amizades de infância
- Jessica Marzo
- 17 de mai.
- 2 min de leitura
Eu tenho amigas e amigos da época do colégio. A gente se vê muito pouco, mas mantemos contato frequente pelos grupos de zap. Nunca esqueço do aniversário, são datas que me acompanham desde sempre. Costumo ligar no dia para dar parabéns (sou dessas, ainda).
Conforme o tempo avança, mais diferente são as nossas vidas. O bairro, a cidade, o país, o trabalho, os companheiros, os filhos, as crenças... a vida que se formou ali em volta, foi se tornando tão distante, não só no espaço físico, mas no jeito de consumir o cotidiano.
Teve uma época que eu achei que cortaria relação com quem não compactuasse com os valores que eu defino como corretos. Depois entendi que os amigos de infância têm um tipo de licença poética, ocupam um lugar em que as ideologias, talvez não importe tanto. Isso porque eles guardam algo precioso. A memória. Tem um carinho cultivado nesta relação que precisa ser levado em consideração. É uma história compartilhada, de uma época em que éramos tão diferentes do que somos hoje, mas que também carrega alguma verdade do que somos lá no fundo.
Assistir as três amigas de infância da 3ª temporada de White Lotus me fez pensar na romantização das amizades. Nunca vai ser perfeito quando a gente conhece alguém em sua profundidade. Todo mundo tem um lado perverso, mesquinho, triste. Por isso a relação de casamento, com filhos e pais é tão complexa. Passar um tempo com os amigos de infância, nos faz rir do passado, mas também chorar. Uma das personagens diz: “Eu sou julgada por aí pelos meus defeitos superficiais, vocês me julgam pelos meus defeitos profundos”. Claro que isso dói e azeda qualquer viagem em hotel de luxo na Tailândia. Manter uma amizade de infância não é simples – demanda cuidado, abertura para acolher as diferenças e até aquilo que, no outro e em nós, talvez desagrade.
Os filhos, o trabalho, os novos amigos, as festas, as doenças, o corre.... nos engole, preenche as 24 horas do dia. É preciso cavar, encontrar um espaço para que esse tipo de amizade não vire fumaça de cartas queimadas. Eu não quero que essa história se perca. São poucos que começam a vida ao nosso lado, e se mantém, de alguma forma ali seja no dia a dia, ou apenas numa ligação de aniversário. Cultivar uma amizade de infância, de adolescência, cuidar desse encontro é também encarar o presente, e as escolhas boas e ruins que nos movem até aqui.

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