O fio delas
- Jessica Marzo
- 2 de fev. de 2021
- 1 min de leitura
Atualizado: 12 de fev. de 2021
Ha dois anos irmãs. Tive medo dessa relação. Como seria o fio que liga as duas? Espinhoso, colorido, macio, ondular, firme? Me perguntei um milhão de vezes como faria para mediar, como disfarçar preferencias, como agir conforme a subjetividade de cada uma, como ser justa. Como criar vínculos entre as duas, como fazer com que elas se respeitem.
Joguei em cima de mim um peso carregado de expectativas. Elas precisam ser amigas, precisam ceder, precisam ser parceiras, precisam ser confidentes, precisam se amar. E me coloquei no centro e responsável dessa relação, quase me esquecendo que o fio que liga as duas só elas podem tecer.
Aos poucos vou me tirando desse papel dirigente para me colocar ao lado delas. Olho para as duas, tão pequenas e tão sábias na confecção do fio que as une. No acordar, comer, banhar, brincar, brigar.. Na intimidade dos dias, elas se tornam irmãs. Constroem esse fio sem medos, expectativas ou obrigações. Intuitivamente estabelecem a comunicação, o olhar, a provocação, as regras. No viver distraído, sem compromisso com algum tipo de perfeição ou idealização, elas se conhecem e se reconhecem no papel de irmãs.
Com sinceridade e entrega elas fabricam este fio feitos (por enquanto) de verdades e espontaneidade. Quanta potência existe em suas relações. Eu sigo ao lado delas, encantada com a forma que escolheram para brigar, gritar, respeitar, imitar, admirar e se tornar irmãs.

Ilustração: Rita Zepf
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