O bebê da pandemia
- Jessica Marzo
- 20 de ago. de 2020
- 1 min de leitura
Atualizado: 24 de nov. de 2020
A neném tem um ano e meio. Um terço de vida vivida na pandemia. Aprendeu a falar mamãe, papai, Ceci, vovó. Nesse período ganhou franja e muitos dentes. Dia sim, dia não, a vovó dá as caras na tela. Tuuum... tuuum.... tuuum.... ficamos na espera. Vovó aparece! - “Óia, Óia” aponta para mostrar a sua camiseta molhada. Se vovó está comendo oferece para a neném. - “Qué, qué” abre a boca e lambe a tela preta. Vovó canta e a neném gira, bate palmas e cai na gargalhada. Com o celular corre pela casa. - “Óia, Óia” mostra os desenhos pendurados na parede. A neném se senta e brinca com as massinhas, vovó só observa. - “cau cau” balança a mãozinha de tchau. Aperta o botão vermelho. - “abô, abô” com a mãozinha pra cima ela repete. E toda vez que ela vê o celular, aponta e diz: “vovó, vovó”. Há meio ano vovó mora no celular.
"E o senhor me desculpe de estar retrasando em tantas minudencias mas até hoje eu represento em meus olhos aquela hora, tudo tão bom, e o que é, é saudade." (Guimarães Rosa)

ilustração: Davide Bonazzi
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