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O artista e a infância

  • Jessica Marzo
  • 1 de set. de 2021
  • 1 min de leitura

Atualizado: 23 de dez. de 2022

A infância me interessa. As crianças têm alma de artista. O olho vê, a lembrança revê e a imaginação transvê. Ela pinta uma bola preta e diz que é uma bruxa. As crianças ainda não foram castigadas com a ordem natural das coisas. Ela não conhece os contornos, vive de deslimites. Um artista que faz voar uma camponesa - pela imagem, música, palavra, dança, atuação - está salvo da domesticação do amadurecer.


A infância, esse estado de perturbar o sentido normal das ideias é viva e pulsante dentro do artista. A gente cresce e perde a capacidade de tirar as naturalidades do mundo. Os peixes nadam, as casas se cobrem de telhados e o milho vira pipoca. É o que os olhos dos adultos alcançam. Em passos ligeiros passamos por uma folha em formato de coração no chão, sem vê-la. As crianças não. O artista não. Uma gota de orvalho é poesia, um voo de borboleta é um passo de dança e um galho de arvore esquecido na rua é uma varinha realizadora de desejos.


O desenho reto, preciso, não sonha. O traço acostumado não preenche a vida. Vamos jogar as formas no lixo. É preciso desformar o mundo. Ouvir inexistências. A infância das minhas filhas tem me levado a viajar em cavalos verdes, comer sopa de chocolate com azeitonas, miar como os patos e dormir de sapatos. Porque quando se sonha tão grande, a realidade aprende, me disse Valter Hugo Mãe.



Iustração: Laura Hughes

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