Como é o fio que me liga a você
- Jessica Marzo
- 6 de nov. de 2020
- 2 min de leitura
Atualizado: 24 de nov. de 2020
Ter duas filhas tem me ensinado muito sobre a singularidade das relações. Para cada pessoa que nos relacionamos com profundidade existe um fio. Esse fio, carregado de emoções, é único para cada relação firmada. São muitas possibilidades de fios de diferentes cores, cheiros, texturas, sons, movimentos. Pode ser grosso, fino, colorido, monocromático, leve, pesado.
O fio que me liga à minha filha mais velha é pesado, molhado, ondular, espinhoso, colorido, quente, borbulhante, firme, intenso. Já o fio que me liga à minha filha mais nova é leve, livre, sereno, macio, divertido, aconchegante. E esses fios são mutáveis e vão transformando-se conforme as relações amadurecem.
Olhar para todos esses fios que produzimos e entender que os criamos e que somos responsáveis pela sua forma é parte de um caminho transformador de autoconhecimento.
Raiva, angustia, medo, insegurança, alegria, amor, respeito, tudo o que passa por esse fio vai e volta, faz parte dos dois lados das pontas do fio, mas o que ele provoca em mim é meu, está dentro de mim e é preciso fazer esse mergulho interno, acessar minha história, relações, travas e superações para compreender e modificar se necessário.
Aceitar que somos responsáveis pelo que sentimos é libertador. Entregar-se às relações, aos imprevistos, às surpresas, ao incomodo é transmutar para o desconhecido, para o novo eu. Somos formados por todos esses fios, que entre eles se entrelaçam, se enroscam, quebram, equilibram e podem modificar-se, esconder-se, reverberar, são vida, movimento, combinações únicas.
Para infinitos fios únicos ligados a outros infinitos únicos fios não existe roteiro, manual, regra, é vivendo que se aprende, é na intuição que se guia. Que tenhamos sensibilidade e sabedoria para olhar e cuidar das nossas relações, dos nossos fios.

Imagem: Rita Zepf
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