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Bicicleta sem rodinhas

  • Jessica Marzo
  • 26 de abr. de 2023
  • 2 min de leitura

Pode tirar as rodinhas! Acordou decidida. Sério? Pô, mas ontem mesmo a criança era um bebê, se equilibrava em dois pezinhos de bisnagas. Hoje me diz que não só se mantem em pé sem a minha ajuda, como é capaz de se conduzir em apenas duas rodas. Os filhos caçulas crescem, e as vezes a gente não (quer) se dá conta que o tempo também os engole. Bóra lá encontrar um terreno plano, liso, sem multidões. Na primeira tentativa, um tombo para o ladinho. A criança percebe que a bicicleta não é mais a mesma. Está sem o apoio discreto das duas pequenas rodinhas. Aquelas que mantinham o equilíbrio. Entendido que agora a bici não fica mais de pé sem a ajuda dos seus pés. Não dá mais pra pedalar, andar rapidinho, sem pensar em manter o equilíbrio. A criança tenta novamente, e com as pontinhas dos pés se estabiliza parada naquela nova velha bicicleta. Observa ao redor a destreza das rodas que atravessam “a milhão” o seu olhar. É, não vai ser tão fácil como parece. Cambaleia de um lado, do outro. Apoia os pés no chão. De novo. Cambaleia de um lado, do outro. Uma pequena queda. Aiiii socorro para que tirar as rodinhas?? Senta-se na bike, prepara os pés no pedal, olha pra frente. Equilíbrio. Não adianta querer ir pra frente, sem estabilidade. Respira, concentra, vai. Foi. Cambaleia de um lado, do outro. Foi. Andou, pedalou foi. Uhhh, viva, viva. Vibramos como um gol na final de copa mundo. De novo. Prepara, concentra e vai. Foi. E cada vez mais, e mais um pouquinho. E cada vez mais fácil. E vai, vai assim pra sempre. Porque dizem que nunca mais se desaprende a andar de bicicleta. Tenho poucas memórias da minha infância, mas lembro muito bem do meu pai, o pátio do prédio e da bicicleta amarela e azul sem rodinhas. Foram inúmeras tentativas. E desde aquele dia, vou tirando as rodinhas da minha vida, pra tentar ir mais longe e melhor. Tem algumas que talvez por medo, imaturidade, insistem em ficar. Um dia eu me livro delas. Tem outras que, assim como minha filha, acordo decidida a tirar e tiro



ilustração: Julia Sarda

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